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Formação dos pensamentos: Como ocorre em nosso cérebro?

**Texto publicado em meu antigo Blog em 04 de março de 2018.


“(...) Restam outros sistemas fora do solar a colonizar. Ao acabarem todos só resta ao homem (estará equipado?) a dificílima dangerosíssima viagem de si a si mesmo: pôr o pé no chão do seu coração. Experimentar. Colonizar. Humanizar o homem descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas a perene, insuspeitada alegria de con-viver.” Carlos Drummond de Andrade 


O ser humano, por sua própria essência, está sempre buscando alguma coisa, pode ser algo que deseja descobrir, que deseja conhecer, que deseja possuir, que deseja desvendar... A cada minuto de nossa vida estamos aprendendo ou descobrindo algo, basta apenas olharmos com atenção a tudo que nos cerca. Nos enchemos de conhecimentos sobre diferentes assuntos, mas na maioria das vezes desconhecemos a nós mesmos. 

Como falamos no primeiro texto, nossos pensamentos podem abrir caminhos, mas também podem nos escravizar. Antes de entrarmos em questões mais reflexivas sobre a formação de nossos pensamentos, vamos entender um pouquinho do nosso funcionamento cerebral. 

Cognição é um termo geral que se refere às atividades mentais envolvidas na aquisição, retenção e no uso de conhecimento. Em termos cognitivos, o pensamento compreende a manipulação de imagens mentais e conceitos, em um sentido amplo, pensar compreende todas as atividades mentais conscientes. Traduzindo, quando experimentamos algo pela primeira vez, nosso cérebro faz um registro dessa experiência, que pode ter sido boa ou ruim, assim formamos uma representação mental dessa experiência e essa informação fica arquivada. Se a experiência não foi boa, além de registrarmos essa vivência, também iremos registrar o que sentimos, assim essa vivência terá um arquivo que conterá informações, imagens e emoções do que vivemos. Não precisamos necessariamente viver algo para que seja arquivado em nossa memória, se alguém nos relatar um fato que viveu e nos relatar esse fato com sentimento de dor ou alegria, também será possível arquivar essa experiência com o sentimento vivido pela outra pessoa. Basicamente, assim se dá a formação de nossas memórias. 

Quando criança, alguém nos apresentou pela primeira vez o que é uma maçã, aprendemos o nome dessa fruta, sentimos o aroma e sabor e armazenamos em nossa mente o formato e características físicas dessa fruta. Se eu pedir para você imaginar uma maçã, você poderá fazer isso mentalmente, formando uma representação mental sem ter a fruta em mãos agora, poderá me dizer também se gosta do sabor e aroma dessa fruta e até me relatar momentos de sua vida ou de alguém que conhece que envolviam essa fruta. 

A cognição é a manipulação dessas representações mentais de informações que temos arquivadas em nosso cérebro, com essa manipulação podemos chegar a uma conclusão, objetivo ou propósito

Não precisamos ter o objeto em mãos, podemos acessar nossas memórias e saber exatamente como é esse objeto e se gostamos dele ou não. 

É importante também entendermos a estrutura física e o funcionamento do cérebro para chegarmos às atividades mentais como o pensamento. 

O cérebro humano possui bilhões de neurônios que são responsáveis pelas atividades mais complexas do nosso cérebro, eles são compostos por: corpo celular, axônio e dendritos. 



As informações são transmitidas de um neurônio para outro num processo chamado de sinapse, o axônio é responsável por transmitir essas informações pelo sistema nervoso. O pensamento é formado assim, com informações que são repassadas de um neurônio para outro, acessando memórias, emoções, imagens mentais e etc. 

Você já ouviu falar sobre Bainha de Mielina? Ela é uma camada formada por proteínas e lipídios que envolve o axônio. Assim como o fio de eletricidade tem uma capa que protege e isola o fio elétrico, acelerando a condução elétrica, a bainha de mielina isola o axônio e acelera a transmissão do impulso elétrico, ou seja, acelera a transmissão de informações entre os neurônios, quanto mais rápido ocorre a transmissão de informações entre os neurônios, mais rápido processamos dados, registramos, acessamos memórias e etc. 

É como pensar em um HD, quanto mais rápido e ágil ele for, mais rápido e ágil nosso computador apresentará respostas as nossas solicitações. 

Uma bainha de mielina danificada pode prejudicar ou interromper a comunicação entre vários neurônios, surgindo assim, lesões em diferentes regiões do sistema nervoso e causando impactos em nossas habilidades cognitivas e motoras, pois ela pode ter influência na memória, concentração, formação de pensamentos e etc... 

Apenas por curiosidade vale ressaltar que a bainha de mielina é formada durante a última parte do desenvolvimento fetal e durante o primeiro ano de vida, ao longo da vida é necessário fazer a manutenção dela. O ômega 3 tem um papel importante na formação e manutenção da mielina, por isso torna-se interessante incluir alimentos ricos em ômega 3 em sua rotina, como sardinha, atum, salmão, sementes de chia e de linhaça, nozes... 

A saúde dos nossos neurônios dependem de uma bainha de mielina forte e saudável! 

Mas infelizmente, não basta ter uma bainha de mielina reforçada, ela irá acelerar a transmissão de informações, e isso é extremamente necessário, porém é importante controlar quais informações serão repassadas, se nossa mente resgatar informações dolorosas, elas serão transmitidas com rapidez mas nos fará reféns de nossos pensamentos, por isso comecei esse texto dizendo sobre a importância de conhecermos a nós mesmos, de como funcionamos internamente. 

Você já deve ter percebido que quando estamos com algo na cabeça, uma preocupação por exemplo, parece que a cada minuto nossa mente nos lembra desse pensamento e, de uma forma quase automática, começamos a extrair dados de nossa memória que remetem a situações ruins, assim aquela preocupação começa a tomar forma em nossos pensamentos, começamos a visualizar o que pode dar errado e o que de ruim pode acontecer. Quando menos esperamos, estamos aflitos com nossos pensamentos, mas a grande verdade é que não sabemos o que realmente acontecerá, apenas cogitamos hipóteses em nossa mente através de experiências vividas ou até mesmo fatos relatados por outras pessoas, assim nossa mente resgata informações que envolvem algo que está nos preocupando e fazemos conclusões sem antes ter vivido aquilo de fato. 

E como isso nos prejudica não é mesmo? Quantas vezes deixamos de fazer algo por pensar no que poderia dar errado? Ou então, quantas vezes revivemos algo ruim em nossa mente? Parece que só temos memórias ruins, parece que as memórias boas somem ou não tem grande importância diante das memórias ruins. Assim corremos o risco de adoecer. 

Como lidar com pensamentos que mostram apenas o que foi ruim na vida, mostram apenas o que não conseguimos fazer e conquistar, mostram apenas aquilo que temos medo, aquilo que não temos força de enfrentar, e como isso tudo vem da nossa própria mente, achamos que não podemos lutar contra isso, não encontramos força, nosso corpo começa a apresentar sintomas de fraqueza e dor. 

Não é falta de vontade de viver e lutar, quem passa por isso sabe o quanto queria estar livre desses pensamentos que trazem dor, o quanto queria se ver livre de tudo isso e poder viver com alegria e sem medo. Entender que existe e saber como funciona esse processo cerebral para a aquisição e retomada de memórias é importante para lidar com transtornos como depressão, ansiedade e etc. 

Porque é muito mais fácil o resgate de informações em nosso cérebro de memórias dolorosas, de coisas que não deram certo, de coisas ruins que poderão acontecer a nós? Porque não acessamos com a mesma facilidade arquivos de nossas memórias com experiências boas? Porque sempre pensamos no pior? 

Iremos conversar mais detalhadamente sobre isso no próximo texto, para entendermos a lógica cerebral nesse processo e também como podemos reverter essa lógica. 

Até lá, aguardo seus comentários. O que achou do texto, dúvidas, sugestões... Fique a vontade! 

Até a próxima... Psicóloga Aline Sartori

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